domingo, 7 de dezembro de 2008

Da Guerra entre Carneiros e Flores
ou
Da Vida

"Ce n'est pas important la guerre des moutons et des fleurs?"
Antoine de Saint-Exupéry -- Le Petit Prince



Quando a vida convida a celebrá-la, não usa meias palavras. A vida em nós não se cala nos nós de dentro de nós. Ela pulsa, irracional columba rubra de sangue que deslumbra com sua vital força.

A vida é hedônica, sardônica às vezes. Tem covinhas de sibarita e se irrita se escoa sem volúpia. A vida dos sentidos atordoa. Sua pulsação, seu coração é uma irracional pomba que tomba apenas para novamente levantar. E todos guardamos este animal cá dentro.

A racionalidade é um óbice, móbile imóvel, se no campo das profundas energias psíquicas. A mente logarítmica engendra, prevê e arquiteta. O homem, assim, acendra o seu desejo, na assepsia do apetite. Vejo na poesia dos santos a vontade calar o que assiste ao corpo, à vida. E tantos são os silêncios, que grita o porto pubiano da potência, da criação, da ciência dos quereres.

Não sei se o reino dos céus é das crianças, mas nas tranças de suas idéias esta o reino da carne. Seus sonhos são concretos e vívidos, nunca lívidos na renúncia -- denúncia de medonhos desprazeres. É natural a ciência de seus quereres, sempre castrada por palavras de ordem. Bravas bravatas seladas na mata de suas questões são mais importante que o fabrico de mil aviões de guerra.

Na terra, poucas são as batalhas que lhe interessam. O nonsense da razão não sabe da importância das travadas por doces, por ludicidade, por curiosidade ou pela vida. A relevância da guerra entre carneiros e flores só é percebida por quem vive o amor e o valor da vida.




Publicado no dia 24 de janeiro de 2004 em
http://www.icaroberanger.blogger.com.br/.

Um comentário:

➔ Sill Scaroni disse...

Muito obrigada pela tua visita que encheu de alegria o meu sábado.
Gosto muito de ler os teus textos porque vejo a tua essência que aflora poeticamente.


Até logo.

Sill