terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Dos Esquadros e dos Quadrantes de Gaia

pela janela do quarto
pela janela do carro
pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
eu vejo tudo enquadrado
remoto controle
(Esquadros - Adriana Calcanhoto)

Deixa eu encostar meus ouvidos no chão para tentar sentir a pulsação da Terra. Erra meu sentir, vagando por vagas, adagas e adegas! Erra o meu desejo, pois planejo ouvir uns passos tocando Gaia do outro lado da praia, no casco de uma cidade ignota, verdade rota às margens de um rio.

Já me enfastio, não do rio, mas das molduras que mo trazem. Meu mundo é quadrado, emoldurado em janelas, em quimeras, bestas-feras em mim. Meu mundo é colorido, é florido, mas não é quente. Por isso, quero colar meu ouvido no ventre de Gaia, cravar meus dentes no seu dentro, no seu centro, para ver se me queimo neste magma que teimo esvaziar em mim.

Meus jardins têm flores, têm cores, mas não odores. As pessoas são tecidas de palavras, são lavras de letras, mas não têm rostos, não têm pés e nem cabeças. Algumas são lembranças, outras distâncias, outras são promessas... Gaia são muitas peças num extático, fantástico quebra-cabeça errante.

Meus quadrantes, meus quadrados, esquadro-os nas janelas. Esqueço de pôr meus ouvidos no chão, até porque Gaia, nua, não está no chão nem está na rua... Aparece-me na tela. Tem a medida de meus quadros, meus aros, meus esquadros binários, os mais vários de meus vãos, mais pertos dos dedos do que das mãos.



Publicado no dia 30 de setembro de 2005 em
http://www.icaroberanger.blogger.com.br/.

Um comentário:

Jéssica Meneses disse...

Comentei nos post anterior, por engano... Faça o favor de olhar, viu?!