sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

A Alma de um Poeta

Para Heloísa Dias Gramari

Cena de 'B, Encontros com Caio Fernando Abreu'


A alma de um poeta precisa de alimento, precisa da ração diária de lirismo e contemplação, momentos de ascese contra o abismo da maquinação desumana.

Precisa da flor, mesmo a insana que brota no asfalto, se não fica falto de cor. Assim como precisa de ar seu corpo, precisa de poesia sua alma. Precisa da calma contemplativa para digerir o instante que vem, para pegar o trem da fantasia.

A alma de um poeta também precisa ser orvalhada, precisa espalhar por páginas toadas de sons e lágrimas. Nefelibatas não desconhecem o valor da luta, nem o suor da labuta e do pão.

Precisa de risos e sorrisos um poeta. Precisa gargalhar até doer seu ventre, seu entre, e seu corpo todo ressonar o riso. Pois a alegria é elemento, é alimento vital à vida, à poesia, aos sentidos.

A alma de um poeta precisa da beleza. Ela é como a água na natureza. Acesa a candeia dos encantos, dos cantos, dos mantos, dos santos (quiçá), a indiferença é pecado. Mas minha crença não me permite crer que ante o belo haja ser que não se prostre nem se mostre extasiado.

Um poeta não precisa, no entanto, de muitas iguarias sobre a mesa de um palacete. Um verde nos olhos viçado e realçado na poesia de um riso amigo já lhe é um banquete...

Publicado no dia 11 de junho de 2006 em
http://www.icaroberanger.blogger.com.br/.

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