sábado, 13 de dezembro de 2008

O Silêncio Ontogenético

"São as palavras mais silenciosas as que trazem a tempestade. Pensamentos que chegam com pés de pomba dirigem o mundo."
Friedrich Nietzsche -- Assim Falou Zaratustra


Em silêncio, cresce o homem ao redor do homem. Ele esquece que as coisas não somem: tornam-se. As coisas ornam-se de porvir.

A pequena gota anuncia a tempestade que há de vir. A suave brisa já divisa a qualidade do tufão que se insinua. A mulher nua sinaliza o turbilhão dos prazeres incontidos. Naturais, bemóis ou sustenidos, todos os tons, cientes de seus deveres, se fazem presentes nos sons que acalantam.

O que há no mundo? Profundos entes que cantam as suas metamorfoses. Um campo de múltiplas psicoses, últimas escleroses. No mundo há os rios que se transformam, os banhos que se renovam, perceptos que ganham forma, como os de Heráclito. O ser no mundo se apresenta apenas como uma efemeridade, uma singularidade pronta a tornar-se. Um processo aponta e faz o mundo, traz o fundo do sem fim, o estopim da poesia.

Uma sinfonia começa, às vezes, com uma breve e desconexa melodia. Um homem começa sua vida numa célula. Uma libélula lida primeiro com o seu estado larva. Os amores são banhados primeiro no véu da ansiedade. Uma longa saudade é sentida dia após dia.

O silêncio de um pensamento o espalha do momento concebido ao átimo átomo de um novo mundo construído ao fundo de nós.




Publicado no dia 13 de março de 2004 em
http://www.icaroberanger.blogger.com.br/.

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