terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Som e Luz

Eu sempre fui um menino
De natureza solitária
Que lia no mapa das coisas
O riso da letra divina
Em sua beleza primária
Moda — Zé Renato / Juca Filho

Urge crepitar a sensibilidade, para ver se surge algo além desta crepuscular surdez para tudo quanto há de beleza. Porque a crueza sem hora nem vez fez-se senhora, não quero crer no que me rodeia ("pare o mundo que eu quero descer" em paz!).

Tem horas que a mente esta cheia desta surdez. Surdez que leva à mudez da sensibilidade. Que faz com que aceitemos a facilidade da moral da sociedade "Big Brother", que exclui o incômodo e o diferente, mesmo sendo necessária a exclusão de gente, a desumana exclusão humana. Os holofotes da fama e os sacerdotes do capital elidem e iludem. Os sorrisos e a mixórdia estão em concórdia tácita, plácida e alienada com a morte da África (fenômenos anômalos da mesma sorte de lógica demagógica).

Mas todos os dias são ofertadas novas canções, novas porções de sensibilidade, de criatividade, de construção de mundo. Mas ainda é o moribundo frio de auroras que, ainda agora, predominantemente captamos pelas centenas de antenas de televisão que "vomitam música urbana".

O menino "que lia no mapa das coisas o riso da letra divina em sua beleza primária" sofre dentro de nós sua execução sumária na rudeza estética, estésica e ética do que lhe cerca. A recepção estática do lixo que lhe atiram à cara como se fossem dádivas do céu são lástimas, raras de serem percebidas. A vida, sem prazer, se anestesia atrás da miséria estéril, cinérea, do cemitério do sentir.

Ouso pedir: "ouçamos o silêncio para apreciarmos a música!" Sou propenso, quiçá por causa dos sonhos e sentires, à solidão de astros e montanhas, aos risonhos caminhos sem rastros e às estranhas lágrimas ante os tons que a vida produz. Todo homem, afinal, é som e é luz...


Sala São Paulo | OSESP


Publicado no dia 29 de janeiro de 2004 em
http://www.icaroberanger.blogger.com.br/.

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