segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Primeiras Tentativas Poéticas

O poeta Teofilo Tostes Daniel publicou seu primeiro livro, do qual fiz o texto da quarta capa, que segue abaixo.

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“Dentre os personagens presentes neste grande amálgama de pseudo-indivíduos, em meio à grande balbúrdia formada por este vozerio desencontrado, certamente me encontro eu, com a minha voz. (...) Este “eu”, sempre metonímico, revela-me como um personagem, uma persona a mais no meio de tantas outras; sem nome como as demais.”
(Teofilo Tostes Daniel -- Primeiras palavras (em prosa). Do livro "Poemas para serem encenados".)

O carioca Teofilo Tostes Daniel é este “eu”, lírico e teatral. Um tanto nômade, morando atualmente na cidade de São Paulo, o autor nos apresenta seu primeiro livro de poesias. Em ‘Poemas para serem encenados’, Theo (como é mais conhecido e chamado) deflagra um constante diálogo com as artes cênicas e faz de seus poemas uma grande dramaturgia, chegando mesmo a atingir um híbrido entre os gêneros lírico e dramático.

Trata-se de um livro que desnuda a volúvel personalidade da palavra e celebra o significado das primeiras tentativas (?) poéticas.

Ícaro Beranger, autor do blog ‘Um Dedo de Prosa Poética’ (http://www.icaroberanger.blogger.com.br/)
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Na época, meu blog do blogger ainda não havia desaparecido no limbo da internet. Os posts todos, anteriores a este, são do antigo Blog e foram aqui republicados. De agora em diante, virão coisas novas.

Sobre o livro, o autor avisa em seu Tabló[i]g:

Aqueles que quiserem podem encomendar o livro me enviando um email. Nele, basta dizer a quantidade de livros desejada e o endereço para envio. Cada exemplar custa R$ 20,00 mais as taxas de correio. O pagamento deverá ser feito por meio de reembolso postal. Antes de mandar o(s) exemplar(es), enviarei um email dizendo quanto ficará tudo e esperarei a confirmação de que posso enviar pelo correio a encomenda solicitada. Os pedidos podem ser feitos pelos emails teofilotostes@yahoo.com ou teofilotostes@gmail.com.

Poemas para serem encenados
Teofilo Tostes Daniel.
Casa do Novo Autor Editora: São Paulo, 2008.
76 páginas. R$ 20,00 + taxa dos correios.

Encomendas: enviar um email para teofilotostes@yahoo.com ou teofilotostes@gmail.com, com o endereço para envio e a quantidade desejada.



Leia abaixo alguns poemas do livro:


Primeiras Tentativas Poéticas

Duas rimas se encontram no caminho,
Se entreolham, se beijam... Bem no meio
De uma frase cochicham bem baixinho
Segredos já expostos ao passeio.

A linguagem humana forma um ninho
Que sempre expõe ao público recreio
As demonstrações várias de carinho
Das palavras e idéias que eu anseio.

O verbo, ao espalhar apoteoses,
Manifesta-se ávido aos ferozes
Olhos daqueles tidos por poetas.

A minha sina foi-me revelada:
Com versos devo andar por uma estrada;
Poesias devem ser as minhas metas.



Genealógico

Sou filho dos burgos
mas não sou burguês.
Meus cantos são lusos,
não sou português.

Meu povo me aponta
safaris no corpo,
contrastes, afrontas
e um velho índio morto.

Entre hóstias e hostes
cravaram-me um Tostes
de algum povo ao léu.

Fugindo com fome,
meu último nome
chamou Daniel.



O poema de hoje

Tua presença fez-se em minha mente;
Rompeu, inexorável, a barreira
Que arquitetara para que o afluente
De mim não desaguasse em cachoeira.

Meu olhar te mirara descontente
Porquanto te encontrou, bem verdadeira,
Negando um parco olhar a mim, doente,
Que, aflito, te buscara à Terra inteira.

Lugentes olhos cercam teu olhar;
Constantes eles são ao reclamar
A migalha do céu que tu ofertas.

Desisto vagamente de utopias,
De reter os risos que sorrias.
Eu sou daquelas almas já desertas.



Alice Através do Espelho
(ao Armazém Companhia de Teatro)

mote
Eu escrevo este poema
que me imortalizará
por um dia tê-la visto.

Ser o público e a cena
de seus sonhos me será
doce gozo que conquisto.

glosa
Em pensaventos lesmos e espelhares,
Alice alopra os alcalóides anos
nadinocentes, vivos, sempre insanos,
latentes como o brilho dos pulsares.

Volupiadas velhas, sorrateiras
aquecem a epiderme da menina,
da infante nada infântica que nina
os desejos matreiros das soleiras.

Nosso primeiro e estranho anfitrião,
Chapeluco Maleiro e já caduco,
pregado num relógio feito um cuco
ri o riso dos loucos com razão.

Tomo um xeque, um chá-mate e enfim adentro
no espelho-tobogã atrás de Alice,
alicerce dos sonhos, do que eu visse
neste mundo fantástico e epicentro.

Eu vejo um labirinto no armazém,
num impudico, lúdico vestido
em que, no olhar mais lúcido, elucido
todas transparessências que ele tem.

Um gato trapezista, num sorrir,
instaura nos sentidos todo absurdo
comportável no meu sentir já surdo,
pois os seus lábios deixam o rosto ir!

No tabuleiro, a injusticeira manda,
a Rainha das copas e das taras.
Ela corta cabeças pouco caras
nas horas que a demência faz-se branda.

No justíbulo faz-se o julgamento
que desnuda as segundas intenções.
No júri vejo os condes e os barões
feitos nobres num doido desmomento.

No final desta noite ou deste dia,
saciado de amor, eu durmo cedo
neste hospício que espalha todo o medo
da certeza que o mundo o imitaria.

(Aplausos!)

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