Shoppings centers abarrotados: Crianças e adultos, atropelando-se e atropelados, fazem manha pelo presente que não ganham. Cartões, que cobram resposta, com a seguinte frase posta: "Feliz Papai Noel". E o bom velhinho, insumo da cor duma lata de Coca-Cola, alavanca o consumo.
Meu passo estanca. Do alto da descrença adquirida na mania de enxergar símbolos, salta o simplório questionamento: qual o intento dos Evangelhos que narram o nascimento de Cristo? E me visto desta questão aqui, qual fora um moralista, não para passar em revista a obrigação com o deus que se fez homem — tais questões, ao incrédulo, não se consomem nem se colocam —, mas apenas para olhar como se deslocam os significados das coisas sobre os significantes materiais, e para descobrir como são insignificantes todas as eternidades inventadas, todas as verdades forjadas na peia dos sentidos escravizados, na ceia dos meninos pelados no meio-fio, meio frio de deserto e solidão, meio fogo de um medo que vive perto do caixão, do valão comum dos corpos quase mortos esquecidos, de mendigos e indigentes.
Faustas festas em tantas casas, tantas brasas que aquecem frios, tudo isso em contraste com o estio de lágrimas nas páginas daquele papelão com que se cobrem os homens que dormem no chão. Não se pode ter muita esperança, muita confiança que a bondade há de se estender para além desta data. O vinho que esquenta o coração também prepara o crime que a televisão noticia. Espetáculos lúgubres televistos por meus olhos são os tentáculos de minha percepção que cingem o mundo com suas misérias, com suas matérias sensacionais nos jornais assépticos que, por serem eletrônicos, não sujam as mãos.
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